sexta-feira, 19 de março de 2010

Para ouvir: Vuelvo al Sur




Está com insônia? Enfadada? Saudosa? Com TPM? Aumenta o som, se jogue no sofá, feche os olhos e deixe essa música te levar. "Vuelvo al Sur", de Piazzolla, com Wouter Kellerman na flauta e Veronique no vocal.

Não há nada que um bom tango não acalme. Saudades de Buenos Aires.

Beijos moças!

Não-lugar


Para ler ouvindo: Your heart is as black as night - Melody Gardot.

Hoje é mais uma noite daquelas ingratas. Vou deitar com um único pensamento em minha mente caleidoscópica: não há nesse mundo uma só pessoa que pense em mim. Estou no buraco negro dos não-amados. Estou em órbita esperando um convite para ocupar um balão de pensamento. Estou sozinha. Então, me questiono: O que assusta mais, ser mal-amada ou não ser amada de modo algum?

A solidão completa se evidencia no mundo abstrato, onde não há troca de sentimentos. Não há canção de amor que desenhe seu sorriso em outro. Não há suspiro ou reza pedindo por sua presença. Não há saudade.

Você vira uma planta vulgar que ninguém olha. Vira uma pixação na parede que não provoca encantamento. Vira um vira-lata abandonado onde a compaixão é grande para se evitar o chute, mas pequena para provocar o carinho de quem passa. Sou não-lugar. Transito apenas no meu mundo. Ausência de mim no futuro alheio.

Já foi pior. Hoje já não dói tanto pensar assim. Dói mais saber que você não pensa em mim. Pensa nela. Eu, aqui, maldizendo a noite, o futuro, as canções de amor. Você, aí, aquecendo o travesseiro, pernas em encontro e, no ouvido dela, sussurra as palavras que eu mataria para ouvir.

Romper o silêncio? Não, você já se acostumou sem mim. Está pleno. Eu que tome tento e te esqueça. Não precisa se culpar. Aliás, culpe-se só um pouco. Ocupe-se de mim durante um pequeno momento. Arrependa-se levemente quando me encontrar. Quero essas migalhas de todo quase-amor. Já serei feliz tendo isso enquanto tateio esse escuro sem você.

O primeiro post


Tenho mais de 30 anos e tempo de sobra em uma sexta-feira à noite enquanto curo uma ressaca do dia anterior. Resolvi criar um blog para compartilhar com as mulheres as minhas opiniões, quase convicções, acerca do mundo, das pessoas, dos dramas e das tramas que vivo ou que vejo muitas amigas minhas passarem nessa vida tão intensa.

Vou escrever o que vier a minha cabeça ou o que estiver passado pelo meu coração. Não quero que as pessoas se esforcem para me conhecer através de nome, cidade, país, características físicas, etc. Aqui serei muitas, todas que eu carrego comigo, e que às vezes tenho vergonha de mostrar. Isso é cruel. Toda mulher é diversa porque, só convivendo com muitas dentro de si, é que conseguimos olhar o mundo através de várias janelinhas internas.

Às vezes, olho o mundo com graça; outras, com tristeza; quase sempre com desconfiança; e hoje, com apatia. Não quero ser pessimista, mas serei o que estiver refletindo no espelho ou correndo nas veias.

Bem, posso falar sim um pouco de mim, meninas (e por que não os meninos?). Gosto de baixar músicas na internet e de assistir a filmes antigos. Moro sozinha com um companheiro peludo, o Zé. Já tive cinco namorados. Deixei dois e fui abandonada pelos outros. Todos me traíram. Nenhum me enlouqueceu. De cada relação, saí mais forte.

Adoro doce de leite com pão. Gosto de colocar a música em alto volume, pegar o controle remoto e fingir que estou me apresentando para poucas pessoas em algum pub da minha cidade. Tenho medo de lagartixa e odeio música sertaneja. Nunca me operei. Sempre quis ser diplomata, mas virei jornalista. Não exerço mais o jornalismo. Cato letrinhas como hobby.

Sonho em lançar um livro; não sei nem como se começa a plantar uma árvore; e tenho arrepios ao pensar em ter um filho. Sonho em ser amada, mas até agora não deu certo. Ou deu, não é mesmo? Enquanto teve de dar.

Pode ser que tudo ou nada disse seja verdade, ou eu até mude de hábitos amanhã. Mas isso na verdade importa?

Obrigada por me descobrir.