sexta-feira, 19 de março de 2010

Não-lugar


Para ler ouvindo: Your heart is as black as night - Melody Gardot.

Hoje é mais uma noite daquelas ingratas. Vou deitar com um único pensamento em minha mente caleidoscópica: não há nesse mundo uma só pessoa que pense em mim. Estou no buraco negro dos não-amados. Estou em órbita esperando um convite para ocupar um balão de pensamento. Estou sozinha. Então, me questiono: O que assusta mais, ser mal-amada ou não ser amada de modo algum?

A solidão completa se evidencia no mundo abstrato, onde não há troca de sentimentos. Não há canção de amor que desenhe seu sorriso em outro. Não há suspiro ou reza pedindo por sua presença. Não há saudade.

Você vira uma planta vulgar que ninguém olha. Vira uma pixação na parede que não provoca encantamento. Vira um vira-lata abandonado onde a compaixão é grande para se evitar o chute, mas pequena para provocar o carinho de quem passa. Sou não-lugar. Transito apenas no meu mundo. Ausência de mim no futuro alheio.

Já foi pior. Hoje já não dói tanto pensar assim. Dói mais saber que você não pensa em mim. Pensa nela. Eu, aqui, maldizendo a noite, o futuro, as canções de amor. Você, aí, aquecendo o travesseiro, pernas em encontro e, no ouvido dela, sussurra as palavras que eu mataria para ouvir.

Romper o silêncio? Não, você já se acostumou sem mim. Está pleno. Eu que tome tento e te esqueça. Não precisa se culpar. Aliás, culpe-se só um pouco. Ocupe-se de mim durante um pequeno momento. Arrependa-se levemente quando me encontrar. Quero essas migalhas de todo quase-amor. Já serei feliz tendo isso enquanto tateio esse escuro sem você.

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